Só sou eu comigo

Se me ver na rua direi apenas “e aí, tudo bem?”. Mesmo que eu te admire e tenha ficado muito feliz por ter te reencontrado. Mesmo que eu sinta saudade e queira dizer mais do que isso. Não falo muito, não por indiferença, mas sim por introspecção.
A não ser que convivamos bastante, no trabalho ou outro ambiente. Aí achará que falo muito. Mas, de fato, não notará complexidade. Se irritará com o lero-lero.
É que mesmo quando falo muito, digo pouco. Falácias acerca de política, futebol ou qualquer outro assunto que desperte paixão. Sobre mim mesmo, não entrego nada.
Nos pontos de ônibus, falo do céu e do tempo. No comércio, cumprimento, digo que é no débito e agradeço. No barzinho eu sorrio e dou a entender que concordo com qualquer ponto de vista.
Na balada, estarei naqueles sofás confortáveis de canto que ninguém usa. E se me perguntar uma opinião sincera sobre sua vida pessoal, direi “É complicado”, mas não opinarei.
Se perguntar da minha vida amorosa direi que está bem, estando ou não. Assim, de forma seca. Sobre esse tópico sou discreto, além de tímido. Esperará pelos detalhes, pelo complemento do sim ou do não que direi. Não virá.
De fato não sou muito complexo. Na maioria dos dias ninguém é. Em relação aos outros não sei o porquê. Quanto a mim, é porque prefiro me concentrar nos pensamentos criados pela minha mente. Feitos por mim e para mim.