Fofoqueiro: o antropólogo da boca miúda
Lá está ele. Quem vê de longe, calmo, concentrado e mexendo no computador, acha que está ali casualmete, atentando-se aos seus afazeres. Grande engano!
Arrasta o mouse, com a cabeça baixa, mas a tela continua do mesmo jeito. Seu interesse naquele momento não está na tela, e sim nas pessoas do entorno. Duas delas, especificamente.
Minutos antes, viu uma movimentação no escritório. Percebeu olhares suspeitos, cochichos e ouviu parte da conversa. Fosse outro, teria seguido a vida. Mas ele não! Uma vez que pescou no ar uma possibilidade de obter informação previlegiada (e possivelmente inútil), não arreda o pé. É todo ouvidos agora. Todo corpo, na verdade.
Tsc, tsc, tsc… foi nesse final de semana… tsc, tsc, tsc… vai ser surpresa tsc , tsc, tsc — Ouviu ele.
O que aconteceu nesse fim de semana? Quem não pode saber? Saber do quê? E se eu souber, o que farei com essa informação? Será que é notícia boa ou ruim? Preciso investigar!
Fofoqueiro então sonda Fulano. Puxa um asssunto, comenta sobre o tempo que não passa, conta da viagem estressante que fez com os sogros, e quando o outro menos espera… faz a pergunta:
E aí… tá sabendo de alguma novidade?
Essa pergunta é uma grande artimanha fuxiqueiresca. É uma forma de perguntar o que quer saber, mas sem dar na cara. O outro irá:
1 — Responder o que lhe vier na telha
2 — Indagar: Novidade sobre o quê?
É uma pergunta bastante vaga, mas que joga pressão enorme sobre o outro. Quem é que não quer ter uma novidade pra contar? Ninguém quer responder “não… sem novidades”. A gente quer parecer informado.
Queremos compartilhar informação, ser ouvidos e debater com o outro. Ao mesmo tempo, não queremos fazer papel de futriqueiro.
Será que ele já sabe? Melhor eu não contar. Mas se ele já souber, eu tô aqui fazendo papel de bobo.
Que novidade? — Diz Fulano, após engolir seco, olhar para os lados e arregalar os olhos com medo.
Ótima escapada…
Ué?! Sobre quem vai ser o novo técnico do seu time, aquela draga… ou tem alguma outra novidade?
…não estivesse ele conversando com um Investigador profissional dos fatos cotidianos.
Ah! Deve ser o Nelsinho Cajú, que tá livre aí no mercado.
Liso… não entregou nada. Mas o protagonista desse texto, vulgo Fuxiqueiro, Maria Fifi, Boca de sacola não se dá por satisfeito. Sabe que tem algo rolando no ar.
Na visão periférica percebe Fulana fitando-o diretamente. Ela rapidamente desvia o olhar e sai andando. Suspeito… tem algo rolando com certeza, pensa ele. Decide aplicar seu arquétipo de Indiana Jones, em busca da notícia perdida.
Olha a agenda de reuniões dela no e-mail, duas reuniões marcadas: uma às 14h, outra às 15h30. Olha a agenda de Fulano, com quem acabou de falar. Uma reunião às 15h30 apenas.
Escava (fuxica) também as agendas de Adenina, Guanina, Metano e Propano… todos eles com algo em comum: uma reunião às 15h30.
Bingo!
Olha seus e-mails da semana corrente e da anterior. Na caixa de entrada, spam, mensagens privadas… nenhuma menção à reunião alguma naquele horário.
O único com agenda vazia às 15h30 é mesmo nosso queridíssimo antropólogo da boca miúda.
O que fazer agora? Ficar e perguntar? Ir embora e voltar depois? Ir embora e nunca mais voltar? — Não, muito drástico. Decide ficar e lutar! Ou melhor, fazer pesquisa de campo…
Olha ao redor.
Ué? Isso aqui tá muito vazio. Nesse horário, geralmente todo mundo já voltou do almoço sintonizado nas melhores notícias da rádio peão. Desconfiado que é, decide dar uma volta pelo andar.
Não demora muito, percebe uma movimentação perto da copa. Olha de longe através da porta, vê bastante gente ao redor de uma mesa. Ele se aproxima devagar, sem se deixar ser notado.
tsc, tsc, tsc… ele vai ficar muito supreso tsc, tsc, tsc daqui a uma hora quando todo mundo estiver na mesa tsc, tsc, tsc…
Quem vai ficar surpeso?
Todos olham para trás assustados e antes de dizerem algo ele se aproxima da mesa.
A-Há!
Um bolo. Em cima dele, a plaquinha:
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